Com pesar que informamos o falecimento da D. Ana Maria Primavesi, ocorrido na madrugada de hoje (05/01/2020), aos 99 anos de idade. Publicamos aqui as palavras de Virginia Knnaben, profissional que a acompanha há muitos anos, responsável pela organização e publicação de seus textos e livros:-
“Quase um século de vida, cerca de 80 anos dedicados à ciência do campo. Descansa uma mente notável, uma mulher de força incomum e um ser humano raro.
Afastada de suas atividades desde que ou a morar em São Paulo (SP) com a filha Carin, Ana recolheu-se. Quase centenária, era uma alma jovem num corpo envelhecido que, mesmo se tivesse uma vitalidade para mais 200 anos, não acompanharia uma mente como a dela.
Annemarie Baronesa Conrad, seu nome de solteira, desde pequena apaixonou-se pela natureza, inspirada pelo pai. Naturalmente entrou para a faculdade de agronomia, mesmo Hitler tentando fazer com que as “cabeças pensantes” desistissem de estudar. Ela não só era uma das raras mulheres na faculdade como também aquela que destacou-se por seu talento natural em compreender o invisível: a vida microscópica contida nos solos.
Nestes 99 anos de vida, enfrentou todas as perdas que uma pessoa pode sofrer: irmãos, primos e tios na Segunda Guerra. Posteriormente, pai, mãe, marido. E seu caçula Arturzinho, a maior das chagas, que é perder um filho. Sua morte hoje, causada por problemas relacionados ao coração, encerra uma vida de lutas em vários âmbitos, o principal deles na defesa de uma agricultura ecológica, ou Agroecologia, termo que surge a partir de seus estudos e ensinamentos. Não parece ser à toa que esse coração, que aguentou tantas emoções (boas e ruins) agora precise descansar.
Nosso jatobá sagrado, cuja seiva alimentou saberes e por sob a copa nos abrigamos no acolhimento de compreendermos de onde viemos e para onde vamos, tomba, quase centenário. Ele abre uma clareira imensa que proporcionará ao sol debruçar-se sobre uma nova etapa, a da perpetuação da vida. E dos saberes que ela disseminou.
Antes de tombar, nosso jatobá sagrado lançou tantas sementes, mas tantas, que agora o mundo está repleto de mudas vigorosas, prontas a enfrentar as barreiras que a impediriam de crescer. Essas mudas somos todos nós, cada um que a amou em vida, cada um a seu modo.
Nossa gratidão pelo legado único que nos deixa essa árvore frondosa, cuja luta pelo amor à natureza prevaleceu. A luta a a ser nossa daqui em diante, uma luta pela vida do solo, por uma agricultura respeitosa, por uma educação que se volte mais ao campo e suas múltiplas relações.
Ana Primavesi permanecerá perpetuamente em nossas vidas”.
O velório e o enterro ocorrerão no cemitério de Congonhas. Velório a partir das 10h00. Enterro às 16h30. Rua Ministro Álvaro de Sousa Lima, 101 – Jardim Marajoara – São Paulo (SP).
Em novembro de 1942, Annemarie, com 22 anos, diplomou-se, tendo prestado gradualmente os exames. A Universidade a enviou novamente para um trabalho fora de Viena, ao sul da Estíria, em Reichenburg, para novas amostragens de solos. Quando retornou, como assistente do professor Sekera, orientador de seu doutorado e uma das maiores autoridades da Boku, foi enviada pela Universidade para fazer estudos sobre a geada. A estação a que foi enviada, a de Giessen (Alemanha), era a mais moderna. A visita aos vinhedos compensava um pouco sua frustração (ela achava o plano de pesquisa entediante, mas não tinha opção, tinha que ir) e ela conheceu as plantações na Bélgica e nos vales dos rios Mosela (entre os limites da França, Luxemburgo e Alemanha), Main (Alemanha) e Reno (Alemanha e França). Foi nesse período que Ana adquiriu a habilidade de detectar o tipo de solo em que foi plantada a uva de cada vinho europeu. Ao degustá-lo, ela percebia no fundo em que tipo de solo fora cultivado.Ana Maria Primavesi é engenheira agrônoma, formada na Áustria. Durante seu período de faculdade, a Europa enfrentava a Segunda Guerra e ela persistiu em seus estudos, determinada a estudar o solo, sua grande paixão. Casou-se com Artur Primavesi ainda na Áustria e o casal emigrou para o Brasil. Aqui viveram em muitos lugares, como Minas Gerais, São Paulo e Santa Maria, no RS. Ana Maria Primavesi foi a primeira agrônoma a afirmar que o solo tem vida. Nascida em 1920, nossa querida Annemarie, como foi batizada, escreveu o livro que seria o divisor de águas na compreensão da prática da agricultura ecológica: Manejo Ecológico do Solo. Além desse, outros livros foram publicados e que agora serão relançados pela Editora Expressão Popular. Sua biografia autorizada também foi publicada.
D. Ana Maria Primavesi e os seus girassóis que tanto adorava.
Ana Maria Primavesi com professor Adilson Paschoal, em 28 novembro 2019.
HISTÓRIA
Ana Maria Primavesi é engenheira agrônoma, formada na Áustria. Durante seu período de faculdade, a Europa enfrentava a Segunda Guerra e ela persistiu em seus estudos, determinada a estudar o solo, sua grande paixão. Casou-se com Artur Primavesi ainda na Áustria e o casal emigrou para o Brasil. Aqui viveram em muitos lugares, como Minas Gerais, São Paulo e Santa Maria, no RS. Ana Maria Primavesi foi a primeira agrônoma a afirmar que o solo tem vida. Nascida em 1920, nossa querida Annemarie, como foi batizada, escreveu o livro que seria o divisor de águas na compreensão da prática da agricultura ecológica: Manejo Ecológico do Solo. Além desse, outros livros foram publicados e que agora serão relançados pela Editora Expressão Popular. Sua biografia autorizada também foi publicada.
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Meus mais sinceros sentimentos humanos e agroecológicos como Engenheiro Agrônomo… Muita gratidão…