MARCELO FRAGA MOREIRA
[Comentário Semanal – 03 a 07/06/2024]
É um profissional há mais de 30 anos atuando no mercado de commodities agrícolas,
escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting –
Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos Ltda.
www.archerconsulting.com.br
A divulgação dos números do USDA* na última terça-feira referente a estimativa da safra brasileira 24/25 em +69,90 milhões de sacas (+48,20 milhões de sacas do café tipo arábica e +21,70 milhões de sacas para o café tipo robusta), a meu ver, deixou o mercado mais construtivo no médio/longo prazo.
A princípio o quadro brasileiro da “oferta x demanda” (com a produção total acima) foi considerado como “otimista” e “baixista” pelo mercado – com a produção sendo motivo de duvidas/questionamento por praticamente todos os produtores. A meu ver, analisando as “entrelinhas” creio que o tempo dirá quem está certo.
Alguns pontos cruciais que me chamaram muito a atenção: o estoque de agem final da safra 23/24 (em apenas +2,88 milhões de sacas); a exportação total brasileira durante o período julho-23/junho-24 (estimada em apenas +45,55 milhões de sacas); o consumo interno (estimado em +22,56 e +22,67 milhões de sacas respectivamente para a safra 23/24 e 24/25); o estoque de agem final da safra 24/25 para a safra 25/26 (em +3,54 milhões de sacas).
Segundo o USDA* o “estoque de agem” brasileiro da safra 23/24 para a próxima safra 24/25 está muito mais justo do que o mercado acreditava – apenas +2,86 milhões de sacas! A Conab* parou de divulgar esse dado há meses e estávamos trabalhando com “pelo menos” 3 meses de “estoque de segurança disponível para atender tanto o mercado interno quanto a exportação” – ao redor dos +17 milhões de sacas!
Faltando apenas 1 mês para encerrarmos o ano safra 23/24 – e estimando a exportação em maio-24 em +4,30 milhões de sacas e a de junho-24 em apenas +3,50 milhões de sacas – então o Brasil terá exportado no total +46,99 milhões de sacas. Ajustando então o “estoque de agem / estoque final da safra 23/24 estimado pelo USDA* para APENAS +1,42 MILHÕES DE SACAS!
Considerando então o estoque de agem da safra 23/24 para a próxima safra 24/25 em apenas +1,42 milhões de sacas, e considerando que todas as outras premissas do USDA* estão corretas (mesmo com uma produção total em +69,90 milhões de sacas, com o consumo interno estimado em +22,67 milhões de sacas e uma exportação total em +46,65 milhões de sacas) o estoque final de agem da safra 24/25 para a próxima safra 25/26 deverá ser novamente inferior a +2 milhões de sacas!
A grande dúvida – e que poderá fazer a diferença nos próximos meses – é saber realmente o real estoque de agem existente no Brasil “não contabilizado” nas mãos dos produtores e ainda armazenados nas suas propriedades: será que existe mesmo +5/+10/+15 milhões de sacas depositadas / “escondidas” nos armazéns e/ou propriedades particulares?
Considerando os números do USDA* apenas a demanda brasileira estimada para abastecer o mercado interno + as exportações está em +5,77 milhões de sacas/mês! Então, considerando o estoque de agem em 30 de junho-24 em apenas +2,88 milhões de sacas, o Brasil está com estoque disponível para apenas 15 dias! Qualquer quebra, atraso logístico, eventual aumento no consumo interno / externo poderá impactar o mercado e muito!

Aparentemente o USDA* está muito otimista com as produções do Brasil, Colômbia, Vietnam e Indonésia para a próxima safra estimando uma “oferta total” global em aproximadamente +176 milhões de sacas para uma demanda ao redor dos +168 milhões de sacas – resultando em um “superavit” em +8 milhões de sacas (Porém, a OIC* estima o consumo global em +180,40 milhões de sacas). E isso considerando que os números da produção do USDA* para as origens mencionadas acima estão 100% corretos.
Ora, se o Brasil produzir “apenas” +67 milhões de sacas, o Vietnam “apenas” +26,00 milhões de sacas, a Colômbia apenas +11,50 milhões de sacas4, então o mundo irá perder “apenas” -6,00 milhões de sacas…
Com esse novo cenário do USDA “otimista” em relação ao Brasil, e conforme já sinalizado em comentários anteriores, minha visão continua sendo para um mercado ainda muito firme para os próximos meses – com NY podendo buscar os +300 / +350 centavos de dólar por libra-peso em breve.
No curto prazo porem, junto com o relatório do USDA*, o próximo vencimento das opções no próximo dia 12 de junho continua trazendo volatilidade para o mercado. Novamente os fundos + especuladores conseguiram “jogar” o julho-24 até +239,80 centavos de dólar por libra-peso acionando novos “stops” de compra durante a semana. Nos 4 primeiros dias da semana o mercado “andou” aproximadamente +2.000 pontos com volume médio diário negociando acima dos +60,000 lotes
Na sexta-feira, com o “banho de agua fria” vindo da divulgação dos dados americanos do emprego (onde a economia americana segue firme, forte, e gerando empregos) sinalizando a possibilidade do FED* manter os juros americanos altos por mais tempo – e agora com baixa probabilidade para uma eventual redução até o final do ano – os mercados “despencaram”!
E o café em NY voltou a cair -1.500 pontos com o Julho-24 encerrando a semana @ +224,80 centavos de dólar por libra-peso!
O Julho-24 encerrou abaixo das médias móveis dos +50 e +9 dias (que agora virou importante resistência) e encontra es @ +215 / +199 / +192 centavos de dólar por libra-peso.
Quem será o vencedor nesse próximo exercício das opções? Façam suas apostas!

Os fundos + especuladores continuam “comprados” em +49.130 lotes (o resultado do grande volume negociado na sexta-feira em aproximadamente +115 mil lotes será refletido apenas no próximo relatório do CFTC*).
O mercado continua sentado em “2 barris de pólvora”: o primeiro irá “explodir ou apagar” já na próxima sexta-feira (dia 12 de junho com o vencimento das opções) e o segundo barril de pólvora deverá continuar com o pavio o e “queimando” até o próximo dia 15/20 de agosto (com o término do inverno) mantendo os fundos + especuladores ainda “bem comprados”.
O produtor brasileiro continua vendendo café tipo robusta ainda abaixo da paridade do café do Vietnam (entre -200/-250 R$/saca) – porém, felizmente, já acima do café arábica “tipo rio”, acima dos +1.200 R$/saca. Já o café arábica tipo “cereja descascado” chegou a negociar nessa semana acima dos +1.500 R$/saca e o café arábica tipo 6 negociando entre +1.300/+1.450 R$/saca. O mercado continua pagando prêmios interessantes para lotes com qualidade/peneira 17/18!
Como sempre recomendado aqui para o produtor: PROJETA-SE!
Preços melhores poderão ocorrer? Creio que sim, mas não adianta apenas “ficar torcendo” e não se proteger utilizando as ferramentas de hedge já apresentadas / discutidas nesse comentário semanal inúmeras vezes.
Muito cuidado e atenção para as vendas futuras, para as “travas” das safras 25/26, 26/27 em diante.
Procurem garantir um “preço mínimo” pelo menos ao redor dos +1.200/+1.250 R$/saca para a próxima safra 25/26 para o café tipo arábica e pelo menos +1.000 R$/saca para o café tipo robusta (através da compra de opção de venda “Put*” e/ou compra de estruturas “put-spread*” vendendo uma opção de compra “call*” ou vendendo uma estrutura “call-spread” para financiar a compra do seguro)!
Boa semana a todos!
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** “Call” = opção de Compra
** “Put” = opção de Venda
** “Compra Call-Spread” = compra e venda simultânea de 2 Opções de Compra comprando a Opção com preço de exercício mais baixo vendendo a Opção com preço de exercício mais alto);
** “Venda Call-Spread” = venda e compra simultânea 2 Opções de Compra vendendo a Opção com preço de exercício mais baixo e comprando a Opção com preço de exercício mais alto);
** “Compra Put-Spread” = compra e venda simultânea 2 Opções de Venda comprando a Opção com preço de exercício mais alto e vendendo a Opção com preço de exercício mais baixo);
** “Venda Put-Spread” = venda e compra simultânea 2 Opções de Venda vendendo a Opção com preço de exercício mais alto e comprando a Opção com preço de exercício mais baixo);
** “CFTC” = Commodity Futures Trading Commission – agência independente do governo dos Estados Unidos que regula os mercados de futuros e opções das commodities;
** “IBGE” = Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
** “Cecafé” = Conselho dos Exportadores de Café do Brasil
** “SECEX” = Secretaria comércio exterior
** “CNC” = Conselho Nacional do Café
** “USDA” = Departamento da Agricultura dos Estados Unidos
** “FNC” = Federação Nacional dos Cafeicultores da Colômbia
** “FAS” = Serviço Agrícola Estrangeiro do USDA*
** “OIC” = Organização Internacional do Café
** “GCA” = Green Coffee Association
** “ABIC” = Associação Brasileira da Indústria de Café
** “Sincal” = Associação dos Produtores do Brasil
** “NDF” = (Non-Deliverable Forward), um contrato a termo de moeda com liquidação financeira, com vencimento para aquele mês
** “Pib” = Produto Interno Bruto
** “FED” = Banco Central Americano
** “NOAA” = Departamento Nacional da Atmosfera e Oceanos dos Estados Unidos
** “EUROSTAT” = Serviço de Estatística da União Europeia responsável pela publicação de estatísticas e indicadores de elevada qualidade a nível europeu que permite a comparação entre países e regiões
** “OPEP” = A Organização dos Países Exportadores de Petróleo
** “FOMO” = É caracterizada pela necessidade constante que uma pessoa tem de saber o que outras estão fazendo. FOMO, sigla que vem da expressão em inglês “fear of missing out”, que traduzida para o português significa “medo de ficar de fora”.
o investidor fica com receio em perder uma oportunidade no mercado e sai “comprando ou vendendo” para não ficar de fora da “oportunidade” divulgada na mídia (FOMO = Free of missing out A Organização dos Países Exportadores de Petróleo
** “COOXUPÉ” = Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé
** “Coccamig” = Cooperativa Central de Cafeicultores e Agropecuaristas de Minas Gerais
** “PIB” = Produto interno Bruto de um país
** “COPOM” = Comitê de Política Monetária, é um órgão do Banco Central. Ele foi criado em 1996 com o objetivo de traçar e acompanhar a política monetária do país. Esse é o órgão responsável pelo estabelecimento de diretrizes a respeito da taxa de juros
** “BASIS” = O basis é a disparidade de preço causada pela diferença geográfica entre os pontos de entrega da commodity. Ele é calculado subtraindo o valor da commodity no mercado físico em determinada praça, pelo preço do mesmo produto no mercado futuro.
** “Bandas de bollinger” = do inglês bollinger bands, é um indicador de volatilidade bastante utilizado para prever se um ativo está sobre-comprado, estável ou sobre-vendido. Ele é formado por duas médias móveis, uma superior e outra inferior que indicam tal informação. São alguns atributos desse indicador:
- Antever os níveis de preço de um ativo
- Antecipar topos e fundos de preço no gráfico
- Mostrar a intensidade de valorização ou desvalorização de um ativo
Portanto, este indicador tenta mostrar se uma ação está barata ou cara, em um determinado período de tempo.
Desse modo, ele é indicado para operações de curto prazo, day trade ou swing trade.
O autor da técnica é o americano John Bollinger (nascido em 1950), analista financeiro e colaborador da área de análise técnica. John lançou o seu livro Bollinger on Bollinger Bands em 2001, mas essa técnica começou a ser desenvolvida por ele ainda na década de 1980. As bandas são derivadas das médias móveis e mostram que, independente de qualquer movimento que o preço faça, ele tende a voltar a um equilíbrio. Portanto, temos aí um “estreitamento das bandas” no gráfico de candlestick.
** “PMI” = A sigla PMI significa, em inglês, Purchasing Manager’s Index e é um indicador que mede a atividade econômica de um país a partir de pesquisas mensais realizadas por uma empresa privada.
Assim, o PMI também é conhecido como Índice de Gerentes de Compra e seu principal objetivo é fornecer informações sobre a temperatura de alguns setores da economia e orientar os diversos profissionais do mercado.