Primeiro caso de gripe aviária em sistema comercial no Brasil.
Dois anos após a primeira notificação de gripe aviária em aves silvestres no Brasil, a doença – que desde então se espalhou, totalizando 167 focos até maio de 2025 (160 em aves migratórias/silvestres, 3 em criações de subsistência e 4 em leões-marinhos) – registrou seu primeiro caso no sistema de produção comercial. O episódio foi identificado em uma granja de matrizes no município de Montenegro (RS) e comunicado em 16 de maio de 2025.
O ocorrido não foi exatamente uma surpresa. Desde a detecção do vírus em aves migratórias no país, já se considerava possível sua entrada no sistema comercial, mesmo com o alto padrão de biossegurança adotado no Brasil – considerado rigoroso em comparação com outros países produtores.
Seguindo protocolos sanitários acordados com parceiros comerciais como China, União Europeia, Canadá e África do Sul, o Brasil decretou um autoembargo imediato, por 60 dias, às exportações de produtos avícolas de todo o território nacional para esses mercados.
Diversos outros países importadores também estão impondo restrições. Segundo o Ministério da Agricultura, além dos quatro já citados, Chile, Argentina, Uruguai, México e Coreia do Sul também suspenderam temporariamente as importações de produtos avícolas brasileiros. A lista, ao que tudo indica, deve continuar crescendo.
Para o Japão, o Brasil mantém um certificado sanitário que restringe as exportações apenas ao município afetado. O país também possui acordos de regionalização com Emirados Árabes e Arábia Saudita, o que pode evitar bloqueios totais por parte desses mercados.
POSSÍVEIS IMPACTOS 1) Forte queda das exportações no curto prazo É provável que o próximo mês registre uma acentuada redução nas exportações de carne de frango. Dependendo do êxito nas negociações com os países importadores, os embargos podem ser gradualmente limitados ao município afetado ou ao estado do Rio Grande do Sul. No entanto, esse processo depende,em grande parte, da ausência de novos focos.
O Brasil exporta, em média, mais de US$ 800 milhões por mês em carne de frango. Com os principais mercados impondo bloqueios, essa receita pode sofrer queda expressiva. O impacto poderá ser mitigado caso os embargos sejamrapidamente regionalizados.
2) Aumento da oferta no mercado interno e pressão sobre os preços Algumas grandes processadoras, com unidades em outros estados, poderão redirecionar seus fluxos de exportação a partir de regiões não afetadas, nos casos de bloqueios parciais. Ainda assim, o excedente deverá ser, em grande parte, absorvido pelo mercado interno no curto prazo, o que pode gerar pressão baixista sobre os preços. Este cenário também pode pesar temporariamente no mercado de boi e suíno. E a depender da duração dos embargos e da ocorrência de novos casos o mercado de grãos, também seria afetado.
3) Haverá novos casos? A contenção da crise e o alívio das barreiras dependem fortemente da não ocorrência de novos focos. Testagens estão em andamento e novidades – positivas ou negativas – devem surgir brevemente. Em caso de novas notificações, os impactos poderão se intensificar.
FATORES DE MITIGAÇÃO 1) Diversificação das exportações entre países Entre as proteínas animais, a carne de frango brasileira apresenta a maior diversificação de mercados. Em 2024, os oito principais importadores responderam por 58% das exportações, sendo a China a maior compradora representando 13% da receita total. Porém, no caso de miúdos, essa concentração é grande: China (44%) e África do Sul (15%).
Apesar do número elevado de países com embargos, a diversidade de destinos pode mitigar impactos mais duradouros, especialmente se alguns dos principais mercados retomarem as importações em prazo razoável.
2) Margens ainda favoráveis no setor O setor vem apresentando boas margens desde o ano ado, resultado do equilíbrio entre oferta e demanda. A produção tem crescido de forma moderada, com a oferta sendo bem absorvida pelos mercados interno e externo, sustentando os preços.
Do lado dos custos, o milho – principal insumo da ração – o cenário para a produção ficou mais favorável, com o clima ajudando no desenvolvimento da safrinha em abril e maio, sinalizando preços possivelmente mais baixos no segundo semestre. Esse cenário contribui para a resiliência do setor frente aos impactos.
3) Competitividade do Brasil no cenário global A situação sanitária em outras regiões exportadoras, como EUA e União Europeia, também é desafiadora. Isso limita as alternativas para países importadores em caso de prolongamento dos embargos ao Brasil.
O Brasil lidera as exportações globais de carne de frango, com quase 5 milhões de toneladas (36% do total), seguido pelos EUA (3 milhões de toneladas, 21%) e UE (1,8milhão de toneladas, 13%).
A Tailândia, quarto maior exportador, com 1,2 milhão de toneladas, não registrou casos de H5N1 em 2025 até o momento, o que lhe confere vantagem temporária, especialmente na Ásia.
4) Capacidade de redirecionamento da produção pelas grandes processadoras Empresas com atuação nacional poderão, em certa medida, redirecionar sua produção de estados não embargados para atender mercados abertos. Essa flexibilidade operacional, somada ao atual cenário de margens mais confortáveis, tende a amenizar os impactos econômicos.
Em um cenário de um embargo um pouco mais prolongado, apesar das menores vendas e outros prejuízos, o setor poderia reduzir a produção relativamente rápido e ajustar as margens.
Share da receita das exportações de carne de frango em 2024.
CONCLUSÃO O registro do primeiro caso de gripe aviária em uma granja comercial no Brasil representa um desafio significativo para o setor avícola nacional, especialmente em um momento de margens positivas e estabilidade produtiva.
Apesar da rápida adoção de medidas sanitárias e da capacidade de resposta das autoridades e empresas, os impactos imediatos nas exportações são inevitáveis e podem se refletir em queda de receitas, aumento da oferta no mercado interno e pressão sobre os preços.
No entanto, fatores como a pulverização dos mercados internacionais, a resiliência operacional das grandes processadoras, o cenário atual de custos e a liderança do Brasil no comércio global de carne de frango funcionam como importantes amortecedores dos efeitos negativos.
O desfecho dessa situação dependerá, sobretudo, da contenção de novos focos da doença e do sucesso nas negociações para regionalização dos embargos com os principais parceiros comerciais. O monitoramento contínuo e a comunicação transparente serão essenciais para mitigar riscos e preservar a credibilidade sanitária do país.
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